sábado, 10 de setembro de 2011

Salvador Allende

Senhora(e)s, companheira(o)s e amiga(o)s,

Amanhã, dia 11 de setembro de 2011, completaremos 38 anos do golpe no Chile.
Uma missiva eletrônica do Instituto João Goulart- nosso único Presidente da República morto no exílio-, inspirou-me nessa intenção de divulgar o último discurso do saudoso presidente chileno Salvador Allende, médico, senador e político que tentou mudar a realidade daquele país.

Há muitas passagens sobre esse grande homem, dentre elas, a de prestar solidariedade pessoal e política aos três guerrilheiros remanescentes da guerrilha liderada pelo Che Guevara na Bolívia. Allende senador, envolveu-se pessoalmente na proteção desses três homens em 1967, e que continuam vivos na ilha caribenha de Cuba.

Apesar de todo o poder dos setores que dominavam a política chilena, Salvador Allende elegeu-se presidente da república em 1970 numa ampla aliança dos setores progressistas daquele país. Fêz um governo exemplar, com a prestação e colaboração dos melhores homens públicos do Chile e de outros países, a exemplo de nosso Darcy Ribeiro.

Infelizmente, foi derrubado e, ao igual que Getúlio Vargas, preferiu a morte. Não quis render-se à infâmia! Preferiu enfrentar voluntariamente a morte- esse eterno enigma de nossa existência.

O seu último discurso é um verdadeiro poema libertário. Não há nenhuma palavra fora de lugar. Todas são, necessariamente, postas em seu sentido, o da explicação do ato a ser feito em seguida, ou seja, a disposição de morrer lutando ou, o que realmente ocorreu, a entrega da vida (o suicídio), como disposição de luta e manutenção da honra pessoal e política. Poucos presidentes a fizeram!

Nós, brasileiros, temos o nosso saudoso Getúlio Vargas, que preferiu suicidar-se aos 71 anos, ao ver-se deposto e humilhado pelos poderosos de nosso país. Salvador Allende, quem dissera que a queda do João Goulart foi sentida em todo o continente (exceto pelos intelectuais uspianos!), fêz a mesma opção.

Eis o seu último discurso, desde o Palácio de La Moneda, logo após os criminosos bombardeios.

Igor Lago.
10/09/2011.


O ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE
Discurso do Presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado que derrubou o governo da Unidade Popular e implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet:


"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.

Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.

Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.

Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.

Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.

Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.

Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.

Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor."

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