segunda-feira, 15 de abril de 2013

A CASSAÇÃO

Na noite do 16 de abril, quando começou a última sessão do julgamento, ou na madrugada do dia 17, quando este terminou (e, com este, o sonho da maioria do povo maranhense!), a cassação do mandato do governador Jackson Lago pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder político e econômico, estava decretada.

Ainda em dezembro de 2006, a coligação da candidata derrotada, a então senadora Roseana Sarney Murad, entrara com um recurso contra expedição de diploma (RCED), a ser julgado no TSE. Assim, a batalha judicial se daria na instância superior e, consequentemente,  com economia de tempo processual, ao livrar-se da instância primária, além de todas as supostas vantagens que o “oligarca-mor” pudesse pleitear no planalto brasiliense.

Não custa lembrar que desde 1965, com a eleição de José Sarney – candidato da Ditadura Militar -, o Maranhão sempre elegeu, indiretamente ou diretamente, governadores do grupo político do senador ou apoiados pelo mesmo. Porém, há de se fazer  duas ressalvas: a eleição de 1994, a primeira eleição de Roseana Sarney Murad que carrega forte  suspeita de fraude eleitoral; e a de 2002, a qual, com a participação de manobras jurídicas adversárias no TRE e no TSE, o candidato Jackson Lago teve frustrada a sua ida para o segundo turno contra o então candidato da oligarquia José Reinaldo Tavares.

Após discursar no pátio interno do Palácio, o governador reuniu-se com vários deputados estaduais, inclusive o então presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Tavares. O governador esperava uma atitude de coragem política dos mesmos, principalmente deste. Queria, conforme discutido anteriormente, que o presidente assumisse o governo e, com este ato, não houvesse a passagem direta do cargo para a candidata derrotada. Era uma estratégia para se ganhar tempo, para que os advogados de defesa pudessem entrar com ações judiciais no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a decisão do TSE, que determinara a cassação do governador e a imediata tomada de posse da candidata derrotada, mesmo sem a publicação do Acordão.

Apesar de todas as peculiaridades e diferenças entre os processos eleitorais e penais,  imaginemos se esta decisão tivesse sido dada para os “petistas mensaleiros” antes da publicação do Acordão!

Infelizmente, restou ao governador cumprir com o seu último dever: o de chamar a atenção do país permanecendo no Palácio de Governo, como forma de protesto à decisão de um julgamento marcado por um viés político na mais alta corte eleitoral de nossa República.

Leio e ouço, de vez em quando, aqui e ali, que o governador Jackson fora cassado por supostos erros e/ou méritos. Para mim, nada disso foi determinante. Ele foi cassado porque representava uma ameaça à sustentação política do establisment vigente no país - o pior de toda a nossa história recente.

Igor Lago

Ribeirão Preto - SP, 15/04/2013

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Quarta homenagem-lembrança a Jackson Lago

Amigas e amigos,

Nesta quarta homenagem-lembrança ao ex-governador Jackson Lago, divulgamos a sua carta aos maranhenses, feita ainda no mes de abril, 13 dias após a confirmação da cassação do seu mandato pelo TSE.

Na noite do 16 de abril, após a fatídica decisão do TSE, o governador discursou para os presentes no pátio interno do Palácio dos Leões, se reuniu com os deputados estaduais e decidiu permanecer, em protesto à injusta decisão e, também, como forma de dar tempo às medidas jurídicas ainda a serem utilizadas por sua defesa na instância jurídica superior, o STF.

Fora cassado por abuso de poder econômico e político, logo ele que não tinha mandato na época de sua candidatura e, muito menos, poder econômico.
Ao contrário de seus adversários derrotados em 2006, que possuem um dos maiores impérios de comunicação no Brasil formado por televisões, rádios e jornais, além de terem construído uma fortuna desproporcional à realidade de nosso povo ao longo de quatro décadas.

Deu entrevistas para diversos meios de comunicação de todo o país para denunciar a violência cometida pelos poderosos de Brasília que cassaram o seu mandato num julgamento pautado por questões políticas.

Após 36 horas de resistência pacífica, deixa o Palácio dos Leões com a esperança de ter a decisão do TSE anulada no STF.

A Assembléia Legislativa dera posse à candidata derrotada nas eleições de 2006, conforme determinara o TSE, mesmo sem a publicação do Acordão.

O primeiro e único governo maranhense contrário à Oligarquia Sarney (desde as eleições de 1965) durara 2 anos, tres meses e dezesseis dias.

Sua carta é uma espécie de satisfação à opinião pública e ao seu povo.

Igor Lago



CARTA AOS MARANHENSES

Venho perante o povo que me elegeu o seu Governador, prestar o testemunho de minha ação. Tenho somente a minha palavra e a história de uma vida honrada. Foi assim que enfrentamos e derrotamos a mais terrível máquina de poder de todo o Brasil, controlada por uma só família há 40 anos. Entrei na política pela confiança que conquistei como médico em hospitais públicos, acreditando em valores e princípios. Peço a você, amigo e amiga, que divulgue esta carta. Minha palavra é o meu legado.

Sabia que enfrentaria a mais desleal, cruel e violenta campanha de oposição. O grupo que enriqueceu nos 40 anos de poder atuou dia e noite, sem trégua, em suas rádios, jornais e televisões, para que você não soubesse o que fazia o Governo. Nesse tempo, forjaram um processo judicial que me retirou o cargo de Governador. Anularam mais de um milhão de votos por conta da presença de umas poucas centenas de pessoas em um ato público de que participei apenas como convidado. Tiraram o que não me pertence, mas ao povo do Maranhão.

Por que tamanha violência? Porque era preciso calar um Governo que em apenas dois anos e três meses realizou muito mais do que eles jamais foram capazes. Desde o primeiro dia estabeleci que meu Governo seria participativo, compartilhado pela população. Inaugurei um modelo novo de governar, chamando para conversar as lideranças políticas, religiosas, sindicalistas e organizações civis, sem discriminação partidária.

Realizei fóruns públicos que reuniram mais de cem municípios e suas organizações sociais. Combati o modelo atrasado de governar que provê favores em troca de apoio político. Conveniei com prefeitos, com convicção municipalista, resultando em centenas de obras descentralizadas que mudaram a face urbana e rural dos municípios. Mostrei que era possível realizar quando não se usa o dinheiro público para enriquecer.

Um único exemplo, dentre tantos, mancha de vergonha os que usurparam, pelo tapetão, o cargo que o povo maranhense me confiou. Em pouco mais de dois anos, em 27 meses, inaugurei 180 escolas no nosso Estado. Em oito anos eles inauguraram três escolas. Mas a verdadeira diferença não está nesses números chocantes. A diferença está nos propósitos. Não fizeram escolas porque um povo sem educação é um povo submisso. Essa é a cartilha deles.

Também inovamos na Segurança pública, integrando o Maranhão ao conceito de segurança-cidadã, criando conselhos comunitários e efetivando mil novos policiais militares. Aumentamos em um terço a polícia civil. Em todas as áreas estimulamos a formação de conselhos com ampla participação popular. Foi assim na saúde, nas políticas sociais, na cultura. Oferecemos modelos de gestão e políticas consistentes para valorizar a mulher, os jovens, as minorias, as manifestações da cultura popular.

Pela primeira vez o Maranhão viu o maior investimento de saúde ser aplicado no interior. No coração central do nosso Estado inauguramos um moderno hospital de urgência e emergência, o Socorrão de Presidente Dutra. Deixamos encaminhada a construção de mais dois, em Imperatriz e Pinheiro, com os recursos já depositados nas respectivas prefeituras.

Investimos na infra-estrutura do Estado, pavimentando mais de mil quilômetros de estradas. Tiramos do isolamento municípios condenados a décadas, pela incúria e insensibilidade de maus políticos. Inauguramos a monumental ponte da Liberdade, que estreita os laços com nossos vizinhos do Tocantins e integra o corredor centro-norte de produção.

Dedicamos enorme esforço à atração de investimentos públicos e privados para construir uma alavanca de novas oportunidades de emprego, especialmente nas áreas de metalurgia, siderurgia, geração de energia. Planejamos a montagem de um repertório de projetos estruturantes para os quais dedicamos o melhor de nossos esforços. A Refinaria da Petrobrás, que se iniciará em breve, é um símbolo desse Maranhão que se projeta para o futuro.

Empreendemos gigantesco esforço de valorização da agricultura familiar, de que é símbolo a recuperação do projeto Salangô, criminosamente abandonado. Entregamos as primeiras unidades do maior projeto de inclusão social já realizado no Maranhão, o projeto Rio Anil, em parceria, em partes iguais, com o Governo Federal, com quem estamos construindo apartamentos que substituem barracas e palafitas, tirando milhares de irmãos maranhenses da lama.

Isso tudo é apenas uma pequena mostra do que realizamos no Governo. Muito mais havíamos planejado para os dois últimos anos do mandato que o povo nos confiou. Mas o verdadeiro legado que entrego à população do Maranhão é a demonstração de que é possível fazer. Nenhuma violência, nenhum gesto arbitrário irá estancar o desejo de participação ativa e cidadã de nossa gente.

Entrei no Palácio e dele saí pela porta da frente e nos braços do povo. Resisti o quanto pude à violência daqueles que pensam que são donos do Maranhão. O que eles não sabem, o que jamais aprenderão, é que no meu lugar milhares se levantarão para combater o atraso e a mentira de um governo sem votos, sem legitimidade, sem o respeito do seu povo.

Viva o Maranhão, Viva o Povo do Maranhão! Até breve.

Jackson Lago
Quinta-feira, 30 de abril de 2009.

Homenagem a Jackson Lago e a lembrança da cassação

Amigas e amigos,

Dando continuidade da nossa homenagem a Jackson Lago, no sentido de relembrar o fato político mais triste de nossa história recente- a cassação-, divulgo a defesa feita pelo advogado e ex-ministro do STF, Sr. Francisco Rezek, durante o julgamento do processo contra a expedição de diploma do governador Jackson Lago, em dezembro de 2008.

Gostaria de ressaltar que, paralelamente às ações dos advogados no processo de defesa do mandato do governador legitimamente eleito, durante as sessões do julgamento no TSE, aconteceram várias manifestações em frente ao Palácio dos Leões com a presença de militantes sociais e políticos, de representantes dos movimentos sociais, a exemplo do MST, de partidos políticos aliados, etc.

Destaco a a participação de lideranças e militantes locais de vários matizes partidários, de movimentos sociais, de voluntários, nas manifestações e atos que chamaram a atenção da sociedade para o que estava prestes a acontecer: "O golpe judiciário".

Foi agradável e animadora, também, a presença de personalidades de outros estados, como o casal Capiberibe do Amapá, que tiveram os seus mandatos injustamente cassados por outro processo jurídico, igualmente forjado para atender aos interesses do oligarca maranhense com atuação política naquele estado; do líder do MST nacional, João Pedro Stédile; da cantora Beth Carvalho; da candidata a senadora em 2006 pelo Amapá, vereadora Cristina, dentre outros.

Infelizmente, apesar de todo o esforço destes e a lamentável indiferença de outros, o TSE decidiu apagar a decisão do povo maranhense, em abril de 2009.

A defesa do ministro Rezek é, além da defesa do mandato de Jackson Lago, a denúncia do que este caso implicava para o establishment brasileiro, no qual uma velha oligarquia aliada ao poder central emperra o natural desenvolvimento institucional da República.

Boa leitura!

Igor Lago.


DEFESA DO EX-MINISTRO FRANCISCO REZEK NO PROCESSO DE CASSAÇÃO DO MANDATO DO GOVERNADOR JACKSON LAGO – 18/12/2008.

Veja a íntegra do discurso de Francisco Rezek, atuando na defesa do governador Jackson Lago, durante a sessão de quinta-feira do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, depois de um pedido de vista do ministro Felix Fischer, transferiu para o próximo ano a seqüência do julgamento do pedido de cassação do governador, formulado pela coligação encabeçada por Roseana Sarney (PMDB), derrotada por Jackson nas eleições de 2006.

Presidente Carlos Britto, Senhor Ministro Relator Eros Grau, senhores Ministros Barbosa, Fischer, Gonçalves, Ribeiro Oliveira, Versiani Soares,
Jackson Lago é um médico, nunca fez da política sua principal carreira. Passou em salas de cirurgia a maior parte do seu tempo, o seu ingresso na vida pública é relativamente recente e se fez pelo PDT, pelo Partido Democrático Trabalhista, aquele que foi fundado há cerca de 30 anos por Leonel Brizola.
Goste-se mais ou goste-se menos do estofo ideológico dessa bandeira partidária, ela tem seu pró, Senhor Presidente, uma tradição de integridade que nunca se quebrou.
Foi sob a bandeira deste partido que Jackson Lago, prefeito anterior de São Luís, se candidatou ao governo do estado, e foi eleito em segundo turno. Uma bela vitória que traduz a vontade do povo maranhense de romper um ciclo.
Chamo a atenção da Corte para a absoluta, a sinfônica naturalidade dessa vitória, apelando primeiro para conceitos aritméticos, não se briga com os números. Para vencer a eleição de governador do estado do Maranhão, Jackson Lago teve mais ou menos o mesmo número de votos que obtivera na eleição de quatro anos antes, quando perdeu para José Reinaldo Tavares, então candidato a governador em associação com os candidatos ao Senado Roseana Sarney e Edison Lobão.
A aritmética também se revela, na sua didática, quando se considera que o número de votos obtidos por Jackson Lago no segundo turno, e que lhe deram a vitória, corresponde, grosso modo, à singela soma dos votos que ele próprio obtivera em primeiro turno com os votos dos que o apoiaram em seguida.
Não houve, portanto, diversamente do que se apregoou, nenhuma quebra de votação para a candidata adversária, que se pudesse debitar, de algum modo, a qualquer espécie de ação nociva à lei eleitoral, por parte do governador do estado.
O aspecto mais impressionante, sob a ótica da ciência jurídica desse processo, senhores Ministros, é a fantástica inversão da teoria da responsabilidade. O que se deseja, o que deseja o grupo recorrente, com o endosso integral do Procurador da República, é reverter tudo aquilo que os pensadores do Direito desde a antiguidade conceberam como responsabilidade. Porque de tudo o que se diz aqui e que, na realidade, não tem consistência nem veracidade algumas vezes, mas de tudo o que se diz aqui nada tem a ver com Jackson Lago.
Pretende-se transferir a ele não exatamente responsabilidades do ex-governador José Reinaldo Tavares, que nada fez de irregular no fim, também, ao cabo, mas responsabilidades resultantes de hábitos políticos maranhenses, com os quais ele, estranho a toda a oligarquia e a todo coronelismo, jamais contribuiu.
Não foi ele quem forjou aquilo que no estado do Maranhão, como em vários outros estados da Federação, se inaugurou há tantas décadas como prática política, pelo contrário, tudo isso funcionou mais dessa vez como funcionara em todas as eleições passadas do Maranhão, em desfavor do eleito, daquele que, como disse o advogado adverso, “os pobres e miseráveis do Maranhão” resolveram alterar, resolveram dizer não a um status quo que se eternizava, e inaugurar uma fase nova na vida do estado.
Com a sua extraordinária boa-vontade, e a sua exemplar expediência, o Procurador da República entende que, no caso, houve frases ditas pelo governador de então, que indicam a sua simpatia por vários candidatos, um dos quais o seu correligionário, o seu candidato oficial do PSB, Edson Vidigal, e indicam a sua aversão por aquele grupo que era o dele, cujas metodologias eram, no passado, as dele. Aquele grupo que, entretanto, agora, se constituía num grupo desafeto.
Mas o que disse o governador José Reinaldo? Frases como: “Vamos vencer. Vamos derrubar a oligarquia”. Não há nada naquilo de que se acusa a campanha, não apenas a campanha que nos interessa, de Jackson Lago, mas mesmo a campanha global, que o governador Tavares teria feito em favor dos candidatos chamados pelo Procurador de “anti-Sarney”.
Não existe nada aí que já não se tenha visto em campanhas das grandes democracias do Ocidente. Nada disse José Reinaldo Tavares que não tenha sido dito por Dona Angela Merkel, por Berlusconi, por Tony Blair, por Dona Ségolène Royal, por Nicolas Sarkosy, por Mário Covas em São Paulo, por tantos outros próceres da vida política, das democracias.
Não sei de onde tirou o Ministério Público essa espantosa hipersensibilidade, a ponto de identificar nessas frases típicas de campanha eleitoral, típicas de cenário pré-eleitoral, alguma forma de irregularidade. Sua Excelência honra, afinal de contas, aquilo que disse no início da análise do mérito: “Cumpre mostrar neste parecer o contrário do que se alega nas longas defesas escritas”.
Senhor Presidente, eu sou um Procurador da República de carreira, da primeira geração concursiva, fundador da Associação de Classe. Eu não sabia que o Ministério Público tinha essa função. Eu não sabia que lhe cumpria restibularmente afirmar aquilo que vai dizer em seguida.
Acontece às vezes, por força, sei lá, da lei da inércia, de o Ministério Público assumir uma atitude salvacionista em relação a uma decisão judiciária, e partir da premissa de que lhe cumpre defender aquilo que foi decidido por uma causa de justiça contra um recurso oposto pela parte inconformada. Aqui não há nada, não há decisão de causa de justiça nenhuma. O que há são decisões da Justiça Eleitoral, convalidando o processo, diplomando, empossando o eleito, e um inconformismo da parte perdedora.
Senhor Ministro Presidente,
Senhores Ministros,
Quem quer que tenha um mínimo de vivência da Justiça Eleitoral sabe disso: é próprio da campanha que os antagonismos se manifestem, que as queixas recíprocas aflorem a todo momento. Dispomos de um sistema quase irrepreensível para administrar isso: direito de resposta, várias medidas que a Justiça Eleitoral toma e tomou nesta campanha, para coibir abusos de um lado ou de outro.
Sabemos todos que ao fim do processo eleitoral sobram ressentimentos, mas o vencedor os esquece de pronto. O perdedor, muitas vezes, tende a ruminar os seus ressentimentos. Não precisamos ir longe, não precisamos cair muito abaixo do topo da pirâmide do Poder, para lembrar destemperos verbais refletindo no passado recente do Brasil aquilo que, na voz do derrotado, era uma má administração do processo pela Justiça Eleitoral. Estamos habituados a isso.
Aqui, entretanto, o que se quer não é isso. O que se quer é derrubar o pleito, é inverter o resultado da vontade popular. E aí, mais uma vez, o Ministério Público se decide a abonar aquilo que é o resultado proposto pelo grupo recorrente. Não se trataria apenas de invalidar os votos de quem ganhou, mas de dar o cargo a quem perdeu.
Fantástica operação mental, quando se considera que tudo aquilo que foi levantado como suposta acusação à campanha, que resultou na vitória final de Jackson Lago, mas que não era decididamente uma campanha em favor dele, dos primeiros tempos do processo eleitoral, como se tudo aquilo pudesse repercutir apenas no segundo turno, e não levasse, caso reconhecido pela Justiça, a uma anulação de votos desde o primeiro turno, resultando então, pela regra clara do código eleitoral, na insubsistência da própria eleição.
Senhor Ministro Presidente,
Senhores Ministros,
O povo do estado do Maranhão manifestou-se dessa vez, e todas as estatísticas eleitorais do caso provam que onde quer que se tenha acusado a opinião pública de ser vulnerável a influências, em todos os grotões dos quais se poderia dizer que as pessoas ali votantes são, de algum modo, permeáveis a qualquer forma de abuso de poder econômico na política. Em todos esses sítios, o vitorioso não foi Jackson Lago. Ele foi vitorioso, e a sua grande força eleitoral se manifestou nos lugares onde não houve convênio nenhum, onde não houve presença nenhuma, ou influência nenhuma do governador então reinante. Foi ali que o povo...
Eminente Presidente, não vou me alongar. O povo do estado do Maranhão, o eleitorado maranhense não merece o desrespeito grave e insultuoso que o grupo derrotado pretende lhe impor, tendo a insolência superlativa de querer instrumentalizar esse insulto pela Justiça Eleitoral.
Tenho a convicção de que não passou despercebido a nenhum dos membros do Tribunal o cenário, o pano de fundo deste caso. Tudo o que aparece aos nossos olhos, no cenário que circunda essa campanha eleitoral e o quadro político do estado do Maranhão. Tenho a certeza que todos os membros do Tribunal estão conscientes daquilo que não podemos dizer no memorial ou na tribuna, mas que é do conhecimento e percepção, há tanto tempo, de todo o povo brasileiro consciente.
Senhor Presidente,
Senhores Ministros,
A defesa do mandato popular legítimo do Governador Jackson Lago termina aqui. E os seus advogados agradecem a paciência com que o Tribunal nos ouviu.

domingo, 7 de abril de 2013

DISCURSO DE POSSE DO GOVERNADOR JACKSON LAGO EM 01/01/2007

Amigas e amigos,

Como continuação da homenagem à memória de Jackson Kepler Lago, divulguei ontem a sua última entrevista dada a um jornal, o Tribuna do Nordeste, em 10/2010.

Hoje divulgo, na íntegra, o seu discurso de posse como governador do Maranhão.

É nosso intuito trabalhar a sua memória, assim como relembrar os fatos políticos que aconteceram no nosso estado, especialmente aqueles que tentaram dar um rumo diferente em nossos destinos.

No último 04 de abril, completamos dois anos de sua ausência física e, no próximo dia 16, completaremos quatro anos de sua cassação pelo TSE, num julgamento que ficou conhecido como um dos maiores erros do judiciário brasileiro.

Que seja de bom proveito!

Abraço,

Igor Lago.



DISCURSO DE POSSE DO GOVERNADOR JACKSON LAGO – 01/01/2007, PRAÇA MARIA ARAGÃO, SÃO LUIS, MARANHÃO.

Esta solenidade é o ato inaugural de um outro Maranhão. Um Maranhão que tem compromisso com seus filhos mais necessitados, com nossos irmãos esquecidos, com as crianças sem infância, os adultos sem esperança, as famílias sem porvir.
Conclamo todos os maranhenses para a grande tarefa de preparar o Maranhão para o seu destino de prosperidade e oportunidades. O governo que se inicia hoje tem um dupla e sagrada missão: restabelecer a autoridade do poder popular e montar as bases para a retomada da produção e do desenvolvimento.
Durante muitos anos, coube ao povo maranhense participar da política como quem assiste a um espetáculo. E que triste espetáculo! Agora é hora do povo do Maranhão tornar-se o sujeito ativo da política. É hora de devolver o Maranhão para o povo maranhense.
Você, homem e mulher maranhenses, serão partes deste governo. Vocês terão voz e vez no governo. Vocês terão voz e vez no governo que se inicia. Não há família melhor que a sua. Não há ninguém com mais direitos que você. Sua participação é tão valiosa quanto a de qualquer cidadão. No governo que se inicia hoje, sua presença é importante nos conselhos municipais, nas associações, nas escolas, nos fóruns de debates. A reconstrução do Maranhão é tarefa de todos os nós.
Este será também um governo dos movimentos sociais, das organizações da sociedade, dos sindicatos, das associações, das universidades. O governo de diálogo e da inserção social. Um governo de igualdade racial, de respeito às minorias, de reconhecimento às mulheres.
Nós políticos, não somos donos dos votos que nos foram confiados. Somos arrendatários da esperança do povo maranhense. Assumo o compromisso de fazer de cada ato, de cada gesto, de cada ação do meu governo um resgate dessa esperança.
Agradeço ao povo do Maranhão a graça que me concedeu de me confiar a sua mais alta investidura pública. Não por mérito meu, mas por força das circunstâncias que assim me permitiram a honra de ser portador do nobre sentimento de libertação.
Graças à determinação de seu povo, o Maranhão manda hoje, em alto e bom som, um recado para todo o Brasil. O Maranhão não tem dono! Somos um estado livre! O dono do Maranhão é o povo do Maranhão.
Ao tornar-se o provedor do seu destino, o povo maranhense sepulta a velha política de favores e favorecimentos. As políticas públicas serão dirigidas para quem delas precisa. Os investimentos serão aplicados para o benefício da população mais necessitada. Meu governo não será contra pessoas ou grupos. Será contra métodos e práticas que tornaram o Maranhão o estado mais atrasado do país.
O Maranhão não é um estado qualquer. É um estado do qual podemos e devemos nos orgulhar. Somos a fronteira ecológica entre o semi-árido do Nordeste e a exuberância do ecossistema amazônico. Temos as virtudes e as potencialidades de ambos. Somos o berço de magníficas águas ofertados em rios, riachos, lagos e igarapés que irrigam um chão fértil e generoso. Temos o segundo maior litoral do país e abrigamos o maior berçário de vida marítima nos santuários dos manguezais. Seja na imensidão dos lençóis, ao norte, nas escarpas ao sul, nas verdejantes planícies da baixada, o Maranhão é pródigo em beleza e riqueza.
No entanto, somos também um estado elitista e autoritário, que tem sido historicamente instrumento dos senhores de terras, repartidas entre poucos e privilegiados. Criamos um Maranhão dividido entre os que possuem tudo e os que nada possuem. Entre a fartura de poucos e a necessidade de muitos. Essa gigantesca dívida social tem que começar a ser paga. É para esse Maranhão dos muitos que não tem nada que este governo hoje se forma.
Somos os herdeiros de seculares esperanças frustradas, de bravos maranhenses, os balaios, que há quase duzentos anos lutaram pela liberdade, pela propriedade do solo e contra o arbítrio. Eles foram derrotados pelo poder imperial, mas a sua luta ainda é a nossa luta. A bandeira da Balaiada, a insurreição do povo maranhense, ainda nos inspira a derrotar o atraso, a combater a intolerância, a acreditar no nosso povo.
Não fui eleito sozinho. Trago comigo companheiros de jornada, legiões de pessoas que compartilharam esse sonho de liberdade e a crença na organização de um governo popular e democrático. Não citarei nomes, que são tantos, mas o destino quis que esta solenidade fosse realizada aqui nesta praça que simboliza e testemunha uma das mais ilustres combatentes pela liberdade. Poderia ser Reis perdigão, William Moreira Lima, Neiva Moreira. Maria Aragão, este também é o teu governo. Lembrando o poeta, quem entrar neste governo, pise mansamente, pois estará caminhando sobre os sonhos de Maria Aragão.
Quis também uma feliz circunstância política que o meu governo coincidisse com o segundo mandato do presidente Lula. Com ele palmilhei, há alguns anos, o chão do Maranhão. Conversamos com quebradeiras de coco, visitamos pescadores, trocamos ideias com lavradores, homens e mulheres do interior do Maranhão. Guardo dessa jornada a lembrança de uma amizade regada por um sentimento que nunca os afastou. O sentimento de justiça social. Tenho certeza de que terei no presidente, ou melhor dizendo, no companheiro Lula, o parceiro que o Maranhão precisa para fazer os investimentos necessários ao seu desenvolvimento.
O povo do Maranhão deu ao nosso presidente uma votação consagradora que merecerá a sua gratidão.
Durante a campanha eleitoral, firmei compromissos com o povo maranhense. Tudo farei para cumprir cada compromisso de campanha. Nem todos serão possíveis já no primeiro ano. Alguns levarão tempo para se tornar realidade. A partir de hoje, estarei lutando dia e noite para cumprir com a palavra que empenhei em praça pública, nas dezenas de municípios que visitei.
Todos lembram que meu dístico na campanha foi trabalho, saúde e educação, para libertar o Maranhão. Não era apenas uma frase, um slogan. Era e continuará sendo uma declaração de princípio. Um compromisso que reitero aqui, nesta praça, com o povo da minha terra. É pelo trabalho, com saúde e com educação que o Maranhão construirá seu futuro de liberdade e oportunidades.
Este governo que hoje se inicia tem também um firme compromisso municipalista, que reafirmo perante as lideranças políticas da minha terra. Nasci e me criei no interior, e minha experiência de prefeito de nossa capital confirmou em mim a convicção de que não há desenvolvimento consistente sem a participação integrada e parceira dos municípios.
Recebe das mãos do governador José Reinaldo Tavares esta faixa e as responsabilidades de conduzir o nosso estado. No passado, fomos adversários. Mas o governador José Reinaldo construiu, com alto sacrifício pessoal e político, o caminho para a libertação do Maranhão. Não cabe a mim agradecê-lo. A sua recompensa, governador, é poder hoje mesmo, sair por entre esta multidão na praça com a cabeça erguida do dever cumprido. O seu papel nas atribulações do Maranhão contemporâneo não diminuirá aos olhos da história.
Para aqueles que comigo integrarão o governo, seja a professora na escola, o médico no hospital, o servidor em qualquer órgão público, todos vocês são também fiadores da liberdade e da esperança. O povo é o nosso patrão. É para o povo, especialmente os mais pobres, que devotaremos nosso trabalho de todos os dias.
Rogo a Deus que me dê sua graça para enfrentar as dificuldades, para perdoar as ofensas, para renovar o ânimo, para ser justo, para reconhecer o erro, para perseverar no caminho certo. Disse o poeta que "tudo vale a pena se a alma não é pequena". È com a alma engrandecida pela confiança de vocês que eu assumo hoje o governo do estado do Maranhão.
Muito obrigado.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Jackson vive!

Senhore(a)s, companheiro(a)s e amigo(a)s,

Em agosto de 2011, quando exercíamos a presidência do PDT maranhense, divulguei esta entrevista que o jornalista Egídio Pacheco, gentilmente, nos cedera.

Decidi divulgá-la, novamente, por sua atualidade.

Dizem que, somente alguns, com os anos sofridos de tanta luta, de tanta experiência, de muita humildade e intermináveis reflexões tem a honra de adquirir a sabedoria.

Tenho a impressão de que ela está expressa nas respostas abaixo.

Trata-se da última entrevista do nosso querido pai - Jackson Kepler Lago, feita em outubro de 2010, antes do segundo turno daquelas eleições, para o jornal Tribuna do Nordeste.

Após lê-la fiquei com mais certeza de que estávamos no caminho certo - o de dar tudo o que fosse possível para reorganizar e fortalecer o PDT.

Infelizmente, fomos desrespeitados pelos mais espúrios interesses que a baixa política possa apresentar. E, consequentemente, os fatos partidários tem sido os mais tristes possíveis, aqui no Maranhão e no Brasil.

Acredito que ao levantarmos as bandeiras partidárias, dentre elas a democratização; a reforma do Estatuto; a gestão transparente; as eleições diretas com limite de mandatos para os seus dirigentes; os princípios que sempre nortearam a razão de ser do PDT, fundado por grandes brasileiros que deram a maior parte de seus tempos de vida para fazer deste país uma nação mais igual, livre e solidária; enfim, a boa política que devemos sempre perseguir, nos posicionamos ao lado das melhores causas.

Assim, creio ser a melhor forma de homenagear aos nossos líderes que já se foram e, de certa forma, continuam aqui, a nos inspirar a seguir em frente.

O jornalista Barbosa Lima Sobrinho disse que "quando se trava uma luta, não se deve ter a preocupação com o resultado, mas se é algo pelo qual vale a pena lutar. Sou feliz porque penso que cumpri com meu dever".

Creio que todos nós que ombreamos a luta até aqui também.

É o mínimo que podemos fazer em sua homenagem, por seu legado, pelos seus ideais e pela luta por um Maranhão mais justo, livre e democrático.

Saudações trabalhistas!

Jackson Lago vive!

Igor Lago
Membro do Comitê de Resistência Democrática Jackson Lago;
Membro do Movimento Nacional de Resistência Leonel Brizola.

Imperatriz, 05/04/2013



Jornal Tribuna do Nordeste
(Última entrevista do ex-governador Jackson Lago antes do segundo turno da eleição de 2010 ao jornalista Egídio Pacheco).

Jackson Lago fala tudo sobre candidatura, campanha e eleição.

O nosso entrevistado da semana é o ex-prefeito de São Luís por vários mandatos, ex-governador, Jackson Lago (PDT), que acaba de sair de uma disputa em que os resultados não foram satisfatórios, mas que nem por isso deixou se abater e está muito bem disposto a continuar a luta, pela vida e na política. Ele faz uma análise fria do pleito e de momentos e atitudes politicamente nefastas, que de uma forma ou de outra contribuíram para o desembocar bisonho para as oposições na eleição para prefeito de São Luís e agora na última eleição para o governo do Estado.

Por EGÍDIO PACHECO

TRIBUNA DO NORDESTE – Qual a leitura que o senhor faz dos resultados das últimas eleições?

Jackson Lago – Naturalmente sob a emoção é mais difícil se dar mais concretude à análise. Mas não é difícil se perceber que a nossa candidatura foi vítima de mais um golpe judiciário. Utilizaram o golpe judiciário que nos afastaram do governo. Como ainda quiseram nos colocar no meio daquelas pessoas de vida duvidosa e que não deveriam fazer parte da vida pública brasileira. Outro aspecto é que as estruturas dominantes do Estado, que têm acesso a essas instituições, conseguiram que recursos contra Roseana fossem julgados três dias após ter entrado no TSE. O meu recurso só foi julgado depois que terminou o programa eleitoral. A parte dominante conseguiu que ficássemos sob uma interrogação durante longo período. Os concorrentes não tiveram outro discurso, se não pregar o voto útil, considerando que o Jackson teria os votos anulados; ai sucedeu nos últimos dias da campanha na transferência de votos que seriam meus para os concorrentes da oposição.

T. N. – A luta acabou?

Jackson Lago – Isso é lamentável na vida pública maranhense, mas nós que estamos fazendo política no Maranhão, sabemos onde estamos e a que estamos expostos. Essa é uma etapa, um processo da luta, que não se encerrou e que não vai se encerrar, porque enquanto a maioria da população arrasada, excluída, sem direitos sociais e cidadania; temos que continuar a luta.

T. N. – O senhor ratifica que tem sido vítima de golpes e golpes?

Jackson Lago – Não foi a primeira vez que eles nos golpeiam judicialmente, que o TSE nos golpeia. Já em 2002 – todos sabem, o TSE impediu que houvesse o 2º turno, porque nós já teríamos chegado ao governo. É uma convivência com uma realidade dura, que exige não só de mim, mas de todos os maranhenses desejosos de uma mudança verdadeira, uma capacidade de não se abater diante de resultados eleitorais ou resultados eleitorais como consequência de manobras mesquinhas.

T. N. – Dr. Jackson, a deputada estadual Helena Barros Heluy, logo após a conclamação das oposições para votar em Serra, disse que essa motivação era motivada pelo ódio. O senhor vê assim?

Jackson Lago – No meu entendimento é uma luta de décadas contra o Sarney. E não há dúvida nenhuma, que o Sarney é Dilma. Eleger a Dilma é fortalecer mais os Sarney. Então temos que entender que a décadas esse grupo dominante aqui se perpetua em função de suas relações com o governo federal, seja ele militar, civil, de direita ou de esquerda. A nossa posição é anti Sarney, que é coerente com as décadas de nossa luta política. É uma atitude de escolha e também de acreditar num candidato que vi – eu fazia Pós-Graduação – no comício do dia 13, da Central do Brasil, com que entusiasmo e veemência, o então presidente da UNE, José Serra, lutava e defendia as Reformas de Base do presidente João Goulart.

T. N. – Continue.

Jackson Lago – Eu o vi tendo que ir para o exílio, como muitos outros brasileiros. Depois eu vi a competência, a coragem e o patriotismo do ministro do governo FHC, um governo conservador; e ele como ministro da Saúde, enfrentou as multinacionais dos medicamentos e do fumo. Ou seja, ele tem uma história, para não falar na sua eficiência de gestão de uma das maiores cidades da América Latina, São Paulo e de um Estado como São Paulo. Ele tem competência, raízes e compromissos com o interesse nacional.

T. N. – Governador, o senhor assegura que o Serra, hoje é o anti Sarney. Mas será que em nome do fisiologismo político e da governabilidade, ele, uma vez eleito presidente, não vai abrir mão do apoio do PMDB, presidente do Senado e que tem o controle de 2/3 (12) deputados federais da bancada maranhense, além de alguns deputados do Amapá e por cima, mais três senadores do Maranhão?

Jackson Lago – Em princípio é natural, considerando a natureza fisiológica com que o País tem sido conduzido, é natural que se pense assim. Por outro lado, se olharmos o quê foi o Serra prefeito e governador de São Paulo, observamos que ele não fez loteamento de sua administração; e é essa a questão que está sendo colocada agora. Por várias vezes tem afirmado que tem de dois ex-presidentes, que podem ser questionados em muitos aspectos, mas são pessoas dignas (Itamar Franco e FHC); e que a Dilma têm o apoio do Sarney e do Collor. Acho que isso quer dizer muita coisa. Essa questão da formação fisiológica do governo, ele tem afirmado que vai tratar a coisa pública, como coisa pública; não vai lotear a coisa pública.

T. N. – O quê o senhor espera de uma possível administração Serra?

Jackson Lago – Se o Serra sai dessa eleição com a determinação de cumprir o quê tem sido a sua vida pública, ele não vai lotear o País. E vai ter que conviver com dignidade. Então, acho que a vitória de Serra pode representar um novo momento no estilo das relações administrativas e políticas desse País, que tem sido um escândalo. Você pega uma empresa como a Petrobras e se recuar 20, 30 anos, é impensável que se colocasse a direção da Petrobras para um determinado partido político. Não era assim. Mas infelizmente hoje é com todas as grandes empresas nacionais. Então, esse aparelhamento político das empresas estatais é uma prática, que se o Serra não reagir contra essa prática e não acabar, então o País será sem esperança e um país sem esperança ninguém sabe o que vai acontecer.

T. N. – São Luís tem sido historicamente contra os Sarney. Como o senhor explicaria a vitória de Roseana Sarney em São Luís?

Jackson Lago – Tudo isso é um processo midiático, que juntou com a deusificação do Lula. Lula virou um deus e ela se segurou nas barbas do Lula. Tudo isso facilitou, mas isso tudo também foi só uma etapa do processo. São Luís vai se reencontrar com ela própria. Foi um momento de muita mídia, que procuraram execrar a nossa vida inteira; desde que nos tiraram do governo começaram a nos atacar como ineficientes, como até companheiros deles na corrupção, com mentiras, calúnias e injúrias. Mas estamos acostumados a ver que as cidades desse País se reencontram com muita rapidez e tenho certeza que São Luis vai se reencontrar e cair na real num prazo muito curto.

T. N. – E como o senhor viu a revoada de prefeitos, antes seus aliados, para o lado da governadora Roseana Sarney?

Jackson Lago – Esse é o quadro político do Estado, que ficou mais de 40 anos dominado por uma família, não podemos esperar que a classe política tenha outra natureza, mas há sempre exceções, exemplos de dignidade, coerência, firmeza, coluna vertebral, mas infelizmente o que legaram ao Maranhão nesses 40 anos, foi o oportunismo, que tem várias naturezas. Então isso é um processo que só o tempo e a luta política vai purificar.

T. N. – Nos causou estranheza, o fato do prefeito de São Luis, João Castelo (PSDB) um dos aliados das oposições desde a Frente de Libertação do Maranhão, somente na reta final da campanha, ter aparecido na TV para pedir votos para o senhor. Como o senhor faz essa leitura?

Jackson Lago – Olha. Eu acho que o prefeito João Castelo, como cidadão, tem o direito de ter o seu comportamento político em cada eleição. Naturalmente que para nós seria mais um apoio desejado que deveria ter acontecido desde o começo, mas isso tudo faz parte da realidade do quadro político do Estado. Nós sempre fomos acostumados a contar com as nossas próprias forças e então, se houvesse realmente o apoio forte de outras correntes, receberíamos de muito bom grado, mas ele não havendo....Nós usamos as nossas forças limitadas, mas que são nossas.

T. N. – Momentos antes do senhor deixar a Prefeitura de São Luís, em conversa com o então deputado estadual Julião Amim (PDT), lhe perguntei se o vice-prefeito Tadeu Palácio era politicamente confiável. E ele me respondeu negativamente, dizendo: “Rapaz, não sei por que muita gente me pergunta isso”. Na nossa opinião, o prefeito Tadeu conseguiu uma grande façanha: Desmantelou o PDT, em São Luís, o que teve consequências na eleição para prefeito da Capital em 2008 e no nosso entendimento culminando com os resultados da eleição para governador. Como o senhor viu a postura política do Tadeu Palácio?

Jackson Lago – Olha. O prefeito Tadeu Palácio, naturalmente, terminou mostrando a sua verdadeira dimensão. Há pessoas que atingem determinados cargos depois de muitos anos, de muita luta e muita coerência; e outras, muitas vezes são afortunadas por algumas decisões e, então, eu acho que cada um tem a sua dimensão e o seu tamanho; e ele talvez tenha com essas atitudes e sobre tudo, indo para onde foi; tenha mostrado à população de São Luís, realmente, quem ele é.

T. N. – Quase na reta final da campanha, surgiram comentários e até mesmo na mídia de que a sua campanha estaria terminada por falta de recursos. Faltou dinheiro na campanha?

Jackson Lago – Uma candidatura que foi colocada como disse no início da entrevista, de acordo com as estruturas vigentes – uma candidatura que poderia até nem acontecer, pois votos poderiam ser anulados, evidentemente que muitas pessoas que poderiam ter ajudado não ajudaram. Realmente nós não temos meios pessoais. Então essa campanha e como a nossa candidatura só foi confirmada 48 horas antes da eleição, claro que durante a campanha tivemos grandes dificuldades de recursos.

T. N. – E agora. Qual o futuro político de Jackson Lago no Maranhão?

Jackson Lago – Retornar para a sede do Partido com tempo mais livre, com a experiência recolhida ao longo desses anos e começar a fortalecer o instrumento de luta que é o nosso PDT.