sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Coragem Política!

Companheiras e companheiros do PDT,

É, sinceramente, um imenso prazer estar aqui com vocês, nesta cidade heróica, lugar de tantas batalhas pela República, pela Democracia, pela Legalidade. Quis o destino que, aqui e agora, não estivesse presente, fisicamente, um homem que dedicou toda a sua vida em prol dos ideais do Trabalhismo, da Democracia e da Justiça Social. Mas, cumprindo com o nosso dever, aqui estamos, juntamente com todos os companheiros e companheiras de nosso sofrido estado, nos esforçando em representá-lo. Temos a consciência de que este Encontro é de celebração por uma das mais belas campanhas cívicas de nossa história, liderada pelo jovem governador gaúcho, a quem o poeta chileno e prêmio Nobel - Pablo Neruda -, dedicou um lindo poema titulado Brizola de las Américas. E, se nos perguntarmos a principal razão da existência de tal Campanha, temos de reconhecer que esta deveu-se a uma qualidade rara na política brasileira:

Coragem! Amigas e amigos, o Brizola foi sinônimo de Coragem Política!

Não podemos jamais esquecer de que somos o partido do trabalhismo brasileiro - movimento autóctone-, que não deixa a desejar em nada, seja do ponto de vista teórico ou prático, em relação às outras ideologias. Este encontro pode nos servir não somente para relembrar esse feito ímpar de nossa história; mas, também, para começarmos a refletir a respeito de nosso próprio partido, de nosso papel no presente e no futuro. Eis, senhoras e senhores, que nos surgem algumas perguntas:

1. O PDT tem estado à altura dos ideais trabalhistas protagonizados por Getúlio Vargas, Alberto Pasqualini, João Goulart, Leonel Brizola e Darcy Ribeiro?
2. Se, na raiz de nossos ideais trabalhistas, encontra-se a concepção nacionalista e, consequentemente, antiimperialista, está o PDT combatendo a nossa situação de mera neocolônia exportadora de matéria-prima e commodities, cujos repetidos governos teimam em nos manter?
3. Ou está mudo, tímido e acomodado diante de tal realidade imposta pelo neoliberalismo, há 30 anos, com a tal chamada globalização?
4. Resignou-se o nosso partido, ao igual que muitos outros partidos ditos progressistas e de esquerda, com a velha concepção de crescimento econômico dependente ou a oportunista miopia de que crescimento econômico implica em diminuição da desigualdade social, tão divulgada pela nossa imprensa oficialista?

Senhoras e senhores, ainda na raiz de nossos ideais trabalhistas, temos uma outra, a do primado dos valores do trabalho sobre o capital. Não esqueçamos o nosso papel de partido que busca transformar a nossa realidade social e econômica fazendo com que o nosso povo conquiste uma vida digna e, assim, o nosso país se torne uma grande Nação. Coragem política PDT!

Getúlio, Jango, Brizola, Darcy, Francisco Julião, Abdias Nascimento, Mário Juruna, Jackson Lago vivem!

Saudações Trabalhistas!

Igor Lago
Presidente Estadual do PDT do Maranhão

* Discurso que seria apresentado no V Congresso do PDT em Setembro de 2011, mas por limitação do tempo teve que ser encurtado.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O PDT é um partido de história, forjado na luta pela democracia

“Jamais uma só pessoa ou um só político destruirá o PDT”.

O nosso entrevistado da semana é o médico Igor Matos Lago, 42, natural de São Luis, militante político desde os seus 11 anos, participando das inumeráveis reuniões que aconteciam na casa de seus pais ou na sede do Partido participando da Juventude Trabalhista e, depois, Juventude Socialista.
Graduação em Medicina no Instituto Superior de Ciências Médicas de Havana, onde viveu 6 anos, graças a uma bolsa de estudo que o seu pai, o ex-governador do Maranhão, Jackson Lago, conseguiu junto ao Ministério da Saúde de Cuba, durante uma viagem a um congresso naquele país.
Com diploma Revalidado na UFMA, fêz Pós-Graduação como Residente em Clínica Médica no Hospital Ipiranga - SUS - SP, especialização em Cardiologia e, depois, em Cardiologia - UTI, na Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo e, por último, especialização em Hemodinâmica no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia do Estado de São Paulo. Um dos herdeiros políticos de Jackson Lago, ocupa a presidência da Comissão provisória do PDT no Maranhão.
Por EGÍDIO PACHECO

TRIBUNA DO NORDESTE – O seu pai, o ex-governador, Jackson Lago, militou na Medicina e na Política. Qual a avaliação que o senhor faz do médico Jackson Lago?
Igor Lago – Como profissional, sempre foi muito dedicado, muito interessado em se superar a cada dia. Tinha aquela atitude do médico de extrema preocupação com o ser humano e não só com a doença. Ele era profundamente humanista na sua arte de exercer a Medicina.

T. N. – E na Política?
Igor Lago – Na Política ele também carregava esse humanismo. Achava que a Política era o meio de servir às pessoas e, especialmente, aos mais pobres, injustiçados, abandonados, o que no Maranhão ainda é muito forte essa característica. Acredito que tanto como médico como político, foi um grande humanista.

T. N. – Como o senhor acompanhou o “esfacelamento” entre aspas, do PDT no Maranhão, especificamente em São Luís, capitaneado pelo então prefeito de São Luís, Tadeu Palácio?
Igor Lago – A vida, assim como a política, é um processo. A cada dia enfrentamos um problema. Ninguém destruiu o PDT. Ninguém ainda conseguiu destruir o PDT. Acho muito difícil que alguém o consiga. O PDT é um partido de história, forjado na luta pela Democracia, Anistia, Liberdade, pelos Direitos Humanos, pelas propostas verdes de defesa do meio ambiente, pela transformação social, pela Educação Pública integral de qualidade, pelos serviços de Saúde de qualidade, por uma melhor distribuição da terra que possa ajudar o homem do campo a se desenvolver. Então, o PDT, com essas características, jamais poderá ser alvo de destruição por uma só pessoa, um só político. O PDT, como todos os partidos, teve e tem os seus problemas mas, por essas características, por essa raiz, acho muito difícil, que alguém consiga destruir o PDT. Além dessas características, há uma disposição de seus fundadores, de seus membros de, a todo tempo, lutar pelo Partido, descobrir as armadilhas que são montadas contra o Partido e nós as vamos desfazendo no dia-a-dia.

T. N. ,– Qual foi o pior momento do PDT estadual?
Igor Lago – Posso lhe dizer que o PDT enfrentou os seus piores momentos durante a cassação, as eleições de 2010 e, principalmente, após a ausência para tratamento de saúde e, infelizmente, o desaparecimento físico de nosso companheiro e líder maior - Jackson Lago. Mas, tudo isto só estimulou os companheiros, a se reunirem e trabalharem pela reorganização e fortalecimento do PDT. Então, ao contrário do que muitos imaginam, o PDT hoje, mesmo sem a presença do seu líder maior, mesmo com tudo que ocorreu nos últimos tempos, o PDT é um partido forte e vai dar demonstração muito contundente disto num futuro muito próximo.

T. N. – É verdade que o pedetista, Jackson Lago, durante a sua trajetória e, principalmente, quando governador do Maranhão, foi um dos políticos mais perseguidos no Estado e, porque não dizer, no Brasil?
Igor Lago – Sem dúvida nenhuma. Considerando que vivemos sob o domínio de um grupo político que não tem a natureza democrática e que mantém esse Estado sob as rédeas, interferindo em todas as suas instituições, nós consideramos que o nosso líder Jackson Kepler Lago foi o político brasileiro mais perseguido durante o processo de redemocratização que, aliás, ainda não aconteceu verdadeiramente no Maranhão, porque só vamos poder dizer que o Maranhão está democratizado, quando tivermos uma alternância de poder consolidada. Ele tentou, mas lhe foi tirada a chance após dois anos, três meses e dezesseis dias.

T. N. – Como está o PDT hoje na sua organização?
Igor Lago – Olha. O PDT hoje vem se reorganizando, se reestruturando e vamos estar presentes nos 217 municípios do Maranhão. Participamos de mais uma reunião da Executiva Estadual. Já temos o Partido organizado em cerca de 150 municípios e estamos correndo atrás dos prazos legais, para chegar ao nosso objetivo, que é o de formalizar o PDT em todos os municípios do Estado até outubro. Acredito que estamos muito próximos dessa meta, e vejo o entusiasmo dos companheiros voltando. Aquela tristeza, aquele abatimento, de pouco a pouco, está se transformando num grande entusiasmo em reorganizar o Partido. Essa é a forma que todo mundo está encontrando de homenagear o nosso líder maior.

T. N. – As eleições municipais estão chegando. E como vai ser a participação do PDT. Ele vai integrar uma frente oposicionista de unidade?
Igor Lago – Veja bem. Nós temos colocado que o melhor para o PDT, que está passando por esse processo de reorganização, seria tratar de alguns assuntos, como o de São Luís, só a partir do ano que vem. De preferência, depois do carnaval, para que essas discussões não contaminem o processo que estamos construindo no presente, isto é, a reorganização partidária. Agora, quando concluirmos esse processo de reorganização, o PDT vai estar mais fortalecido para discutir todas as questões, inclusive esta de São Luís. Mas, posso lhe adiantar que há um sentimento muito forte no Partido (pelo que se percebe e se ouve hoje) de que o mesmo tem uma resposta à sociedade de São Luís, a de candidatura própria, mas ainda é muito cedo. Vamos deixar para discutir isso, no momento adequado, no momento propício.

T. N. – Como o senhor vê a oposição hoje no Maranhão?
Igor Lago – A oposição no Maranhão está enfrentando um momento muito difícil porque, após as eleições de 2006 e com a cassação, houve um segmento dentro da oposição, que colocou em primeiro plano o seu objetivo próprio. Não teve o entendimento de que seria importante a unidade das oposições já no primeiro turno das eleições de 2010. Então, as oposições foram divididas para as eleições, e deu no que deu. Segundo, houve um comportamento durante as eleições de muita deslealdade e de desrespeito, quando um segmento decidiu avançar sobre outro segmento de forma desleal, rasteira, não condizente com os princípios da ética, da moral, os príncipios democráticos e republicanos. Preferiram seguir os princípios – se é que se pode chamar de princípios – da esperteza. Então, deu no que deu. Não tivemos nem segundo turno e estamos amargando essa realidade dura, que é a oligarquia se consolidar no poder após ter tomado o mandato popular nos tapetes dos tribunais. Mas, vamos ver o que a gente pode reconstruir. O PDT está fazendo a sua parte; reorganizando-se, reestruturando-se e, partir para 2012 como um partido forte apresentando o maior número possível de candidatos a vereadores, vice-prefeito e prefeito, e tentar fazer a composição com os outros partidos dentro do campo democrático, sempre pautando pelo respeito e pela lealdade, visando mudar o Maranhão.
T. N. – Com vistas a 2012, o PDT já está trabalhando um projeto real para o desenvolvimento de São Luís?
Igor Lago – O PDT tem toda uma história com relação a São Luís. O PDT ganhou as eleições municipais de São Luís de 1988, 1996, 2000, 2004 e ganhou outras com partidos aliados. No momento apropriado, como já disse, nós vamos dar uma resposta aos anseios da sociedade de São Luís. O PDT vai apontar que tem propostas novas, modernas, de compromisso com o desenvolvimento da cidade de São Luis, principalmente, com os requisitos de qualidade na área da saúde, educação, regularização dos terrenos e enfrentar o problema do trânsito, que é muito sério, o da segurança – ver no que se pode colaborar no enfrentamento da violência, drogas, etc. O PDT é um partido que tem tradição solidária, e vai continuar servindo aos ludovicenses e aos maranhenses.

T. N. – O senhor como médico, como o senhor vê o Sistema Único de Saúde hoje no Brasil?
Igor Lago – Fico muito triste porque, recentemente, tivemos um governo que chegou ao poder em 2002, dizendo que ia transformar o País: mudar a saúde, a educação, a infra estrutura, e o que vemos é que o País em nada disso avançou; ao contrário, na área da saúde, o valor percentual do PIB até diminuiu com relação ao governo anterior. Constatamos que, de fato, não mudou, não melhorou a saúde do País. Eu me sinto muito decepcionado, frustrado em ver que o País não avançou. Vemos pelos jornais e TVs as crises dos hospitais públicos, filas imensas nos serviços de urgências e emergências, a falta de atividades básicas de saúde. Então, acho que nós precisamos mudar muito para que possamos dar uma melhor cara na saúde pública brasileira.

T. N. – E como o senhor vê a saúde doméstica? A governadora Roseana, assim que tomou o poder anunciou a construção de 73 hospitais para dezembro do ano passado e até agora inaugurou apenas um. Além do mais, a Revista Isto É deu uma manchete de que os hospitais de Roseana estão na UTI. Um escândalo envolvendo licitações e doações de campanha. Como o senhor vê esse episódio?
Igor Lago – Eu diria que o Maranhão deu passos de caranguejo em todas as áreas e, na área da saúde, o que está vindo à tona, reflete isto de forma muito categórica. O Maranhão, há muito tempo, precisa construir hospitais regionais para atendimento de urgência e emergência nas áreas clínica e cirúrgica básicas, para que os postos de saúde e unidades de primeira instância possam se integrar a esses hospitais, que teriam, a princípio, serviços de média e, alguns, de alta complexidade.
Com o conhecimento logístico dos níveis das unidades de saúde, é que vamos resolver o problema, com muita vontade política e com uma correta aplicação dos recursos públicos.

* Entrevista concedida ao Jornal Tribuna do Nordeste em 19 de Agosto de 2011

sábado, 10 de setembro de 2011

Salvador Allende

Senhora(e)s, companheira(o)s e amiga(o)s,

Amanhã, dia 11 de setembro de 2011, completaremos 38 anos do golpe no Chile.
Uma missiva eletrônica do Instituto João Goulart- nosso único Presidente da República morto no exílio-, inspirou-me nessa intenção de divulgar o último discurso do saudoso presidente chileno Salvador Allende, médico, senador e político que tentou mudar a realidade daquele país.

Há muitas passagens sobre esse grande homem, dentre elas, a de prestar solidariedade pessoal e política aos três guerrilheiros remanescentes da guerrilha liderada pelo Che Guevara na Bolívia. Allende senador, envolveu-se pessoalmente na proteção desses três homens em 1967, e que continuam vivos na ilha caribenha de Cuba.

Apesar de todo o poder dos setores que dominavam a política chilena, Salvador Allende elegeu-se presidente da república em 1970 numa ampla aliança dos setores progressistas daquele país. Fêz um governo exemplar, com a prestação e colaboração dos melhores homens públicos do Chile e de outros países, a exemplo de nosso Darcy Ribeiro.

Infelizmente, foi derrubado e, ao igual que Getúlio Vargas, preferiu a morte. Não quis render-se à infâmia! Preferiu enfrentar voluntariamente a morte- esse eterno enigma de nossa existência.

O seu último discurso é um verdadeiro poema libertário. Não há nenhuma palavra fora de lugar. Todas são, necessariamente, postas em seu sentido, o da explicação do ato a ser feito em seguida, ou seja, a disposição de morrer lutando ou, o que realmente ocorreu, a entrega da vida (o suicídio), como disposição de luta e manutenção da honra pessoal e política. Poucos presidentes a fizeram!

Nós, brasileiros, temos o nosso saudoso Getúlio Vargas, que preferiu suicidar-se aos 71 anos, ao ver-se deposto e humilhado pelos poderosos de nosso país. Salvador Allende, quem dissera que a queda do João Goulart foi sentida em todo o continente (exceto pelos intelectuais uspianos!), fêz a mesma opção.

Eis o seu último discurso, desde o Palácio de La Moneda, logo após os criminosos bombardeios.

Igor Lago.
10/09/2011.


O ÚLTIMO DISCURSO DE SALVADOR ALLENDE
Discurso do Presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, dia do golpe de Estado que derrubou o governo da Unidade Popular e implantou a sanguinária ditadura militar comandada pelo general Pinochet:


"Seguramente, esta será a última oportunidade em que poderei dirigir-me a vocês. A Força Aérea bombardeou as antenas da Rádio Magallanes. Minhas palavras não têm amargura, mas decepção. Que sejam elas um castigo moral para quem traiu seu juramento: soldados do Chile, comandantes-em-chefe titulares, o almirante Merino, que se autodesignou comandante da Armada, e o senhor Mendoza, general rastejante que ainda ontem manifestara sua fidelidade e lealdade ao Governo, e que também se autodenominou diretor geral dos carabineros.

Diante destes fatos só me cabe dizer aos trabalhadores: Não vou renunciar! Colocado numa encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade ao povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que entregamos à consciência digna de milhares e milhares de chilenos, não poderá ser ceifada definitivamente. [Eles] têm a força, poderão nos avassalar, mas não se detém os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.

Trabalhadores de minha Pátria: quero agradecer-lhes a lealdade que sempre tiveram, a confiança que depositaram em um homem que foi apenas intérprete de grandes anseios de justiça, que empenhou sua palavra em que respeitaria a Constituição e a lei, e assim o fez.

Neste momento definitivo, o último em que eu poderei dirigir-me a vocês, quero que aproveitem a lição: o capital estrangeiro, o imperialismo, unidos à reação criaram o clima para que as Forças Armadas rompessem sua tradição, que lhes ensinara o general Schneider e reafirmara o comandante Araya, vítimas do mesmo setor social que hoje estará esperando com as mãos livres, reconquistar o poder para seguir defendendo seus lucros e seus privilégios.

Dirijo-me a vocês, sobretudo à mulher simples de nossa terra, à camponesa que nos acreditou, à mãe que soube de nossa preocupação com as crianças. Dirijo-me aos profissionais da Pátria, aos profissionais patriotas que continuaram trabalhando contra a sedição auspiciada pelas associações profissionais, associações classistas que também defenderam os lucros de uma sociedade capitalista. Dirijo-me à juventude, àqueles que cantaram e deram sua alegria e seu espírito de luta.

Dirijo-me ao homem do Chile, ao operário, ao camponês, ao intelectual, àqueles que serão perseguidos, porque em nosso país o fascismo está há tempos presente; nos atentados terroristas, explodindo as pontes, cortando as vias férreas, destruindo os oleodutos e os gasodutos, frente ao silêncio daqueles que tinham a obrigação de agir. Estavam comprometidos. A historia os julgará.

Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Vocês continuarão a ouvi-la. Sempre estarei junto a vocês. Pelo menos minha lembrança será a de um homem digno que foi leal à Pátria. O povo deve defender-se, mas não se sacrificar. O povo não deve se deixar arrasar nem tranqüilizar, mas tampouco pode humilhar-se.

Trabalhadores de minha Pátria, tenho fé no Chile e seu destino. Superarão outros homens este momento cinzento e amargo em que a traição pretende impor-se. Saibam que, antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor."

domingo, 4 de setembro de 2011

Legalidade, Brizola e Jackson

A Campanha da Legalidade exerceu uma enorme influência na formação política de Jackson Kepler Lago. Como estudante de Medicina, médico e pós-graduando no Rio de Janeiro, participou ativamente dos movimentos estudantis e sociais no final dos anos 50 e início dos anos 60 na “cidade tambor” de nosso país. Era assíduo freqüentador da UNE que, diferentemente da atual, realizava as famosas palestras de personalidades progressistas nacionais e internacionais, hasteava as bandeiras nacionalistas, democráticas e reformadoras ou revolucionárias da época, etc.

Tinha admiração e relacionava-se com vários contemporâneos do Partido Comunista Brasileiro, do Partido Socialista Brasileiro e do Partido Trabalhista Brasileiro que, naquela época, tinha no jovem governador gaúcho Leonel de Moura Brizola uma estrela em ascensão no cenário político nacional com as suas políticas de educação pública, reforma agrária e a nacionalização de companhias estrangeiras que emperravam o desenvolvimento daquele estado. Quando da renúncia do presidente conservador Jânio Quadros em 1961, o nosso Jango encontrava-se no outro lado do planeta em visita oficial. Não queriam dar posse ao sucessor político de Getúlio Vargas que, eleito pela segunda vez vice-presidente do país, tinha o seu direito garantido pela Constituição.

Não fosse o movimento cívico desencadeado pelo governador gaúcho, o golpe cívico-militar, frustrado em 54 e exitoso em 64, seria em 61! A Campanha da Legalidade influenciou a todos, especialmente aqueles envolvidos com os movimentos sociais, políticos e culturais em plena efervescência no país. O governo Goulart que, diga-se de passagem, gozava de grande popularidade e estava determinado a implementar as reformas de base (as quais ainda tanto precisamos!), marcou profundamente a sua geração. Ele se orgulhava ao falar que participou do Comício da Central do Brasil no dia 13 de março, ouvindo o Arraes, o Brizola e o Jango.

Acho que foi o Comício de sua vida! Depois, veio o golpe. Terminou sua pós-graduação em Cirurgia Torácica e voltou a São Luis, onde implantou um dos primeiros serviços de cirurgia torácica no nordeste do país. Logo em 1967, foi secretário de saúde do município de São Luis, a convite do então prefeito Epitácio Cafeteira que, numa manifestação de rebeldia da ilha de São Luis, derrotara aos três candidatos do jovem governador conservador José Sarney. Desenvolveu a rede de saúde na cidade levando os serviços até a periferia. Em 1974, foi eleito o deputado estadual mais votado pelo MDB (mandato que dedicou à luta dos trabalhadores rurais de nosso estado e à luta pela Anistia) e, em 1978, obteve a primeira suplência de deputado federal com grande suspeita de ter seu mandato frustrado por manobras de apuração afeitas à oligarquia maranhense.

Visitou o líder maranhense Neiva Moreira no exílio, quem lhe passava notícias do Brizola, do Jango e de outros companheiros trabalhistas. Nesse espaço de tempo, tornou-se professor da Faculdade de Medicina no Maranhão e médico cirurgião de notória dedicação ao desenvolvimento dos serviços públicos. Em 1979, lembro de sua alegria ao viajar a Lisboa para participar do Encontro dos Trabalhistas no exílio. Voltou emocionado e inspirado pela liderança daquele que considerava um dos maiores homens públicos da história brasileira. Também tinha uma devoção especial ao Cavaleiro da Esperança, o saudoso Luis Carlos Prestes.

Foi um dos primeiros signatários da fundação do PTB e, depois, do PDT. Enfrentou várias derrotas eleitorais, tais como a de 1976 para prefeito de Bacabal, as de 1978, 1982 e 1986 para deputado federal (nesta última foi o quinto mais votado, porém, o PDT não fez o quociente eleitoral!), a de 1985 para prefeito de São Luis, as de 1994, 2002(nesta lhe tiraram a chance de disputar o segundo turno por manobras de tapetão judiciário!) e 2010 para governador (esta marcadamente influenciada pela utilização do projeto Ficha Limpa pela oligarquia e seus dissidentes!).

Foi secretário de saúde no governo Cafeteira entre 1987 e 1988 com atuação nas conferências pela formação do SUS. Mas, também, colheu vitórias eleitorais, tais como a de 1988, 1996 e 2000 para prefeito de São Luis e, em 2006, para governador. Infelizmente, cassaram-lhe injustamente o seu mandato sob a alegação de abuso de poder político e econômico contra a candidata dos Sarney. Estava fazendo uma verdadeira mudança nos rumos do estado, o que atiçou os instintos de sobrevivência da oligarquia.

Seja como deputado estadual, prefeito ou governador, sempre se notabilizou pelo bom senso, pela honradez e pelo alto sentido do servir aos interesses públicos. Ainda nos seus últimos dias da última campanha, pude testemunhar momento de emoção nos seus olhos quando um popular lhe falou que “se o Brizola fosse vivo, jamais lhe teriam tirado o mandato”. Nas lágrimas salientes de seus olhos, vi a certeza de sua saudade daquele líder que se dedicou a mudar o Brasil.