domingo, 27 de outubro de 2013

Carta à revista Isto É

À REVISTA ISTO É
(A/C do Editor Responsável),

Após leitura da matéria "O desespero do clã Sarney - Sob o risco de perder o poder no Maranhão pela primeira vez em quase meio século, a família do ex-presidente lança campanha predatória contra o principal candidato da oposição", assinada pelo jornalista Claudio Dantas Sequeira, na edição 2293, 25/10/2013, a qual demonstra erros grosseiros a respeito da história maranhense, motivei-me a escrever o que se segue:

Com relação à recente história política-eleitoral maranhense, não é a primeira vez, como afirma a matéria, que o grupo Sarney corre risco de perder o poder no Maranhão.

A bem da verdade, isto já aconteceu no dia 29/10/2006 com a vitória de Jackson Lago, fato que completará 7 anos na próxima terça-feira, e que foi relatado, inclusive, pela própria revista Isto É na época. Vale lembrar, também, que o grupo Sarney jamais aceitou a derrota eleitoral, pois entrou com  processo jurídico de cassação de expedição do diploma de governador diretamente no TSE que, por sua vez, cassou o mandato legítimo do governador aos dois anos, três meses e dezessete dias, o que ficou conhecido como uma das páginas mais tristes da história deste tribunal.

Igualmente, é importante lembrar que o grupo Sarney já enfrentou dificuldades, riscos de perder eleições e, pasmem, até venceu com suspeitos resultados eleitorais e/ou manobras de tapetão no judiciário.

Em 1990, o candidato oposicionista João Castelo (PDS) venceu o primeiro turno com 595.392 votos (36,3%) contra Edson Lobão (PFL) - 459.542 votos (28,3%) e Conceição Andrade (PSB) - 246.468 votos (16,2%), mas perdeu no segundo turno para o então candidato do grupo Sarney, Edson Lobão (PFL) por 101.107 votos (diferença de 7%);

Em 1994, os candidatos oposicionistas Epitácio Cafeteira (PPR) - 353.002 votos (30,79%) e Jackson Lago (PDT) - 231. 528 votos (20,19%) levaram a eleição para o segundo turno disputado por Roseana Sarney (PFL) e Cafeteira (PPR) que, suspeitamente, perdeu por 18.060 votos (1,22%), após 6 horas de apagão das luzes no TRE maranhense.

Detalhe: antes da escuridão o candidato oposicionista estava na frente!

Em 1998, a candidata Roseana Sarney (PFL) deu um passeio na sua reeleição, ou seja, venceu com 66,01% dos votos derrotando Cafeteira (PPR) - 26,35% e Domingos Dutra (PT) - 6,40%;

Em 2002, o candidato do grupo Sarney, Zé Reinaldo Tavares (PFL) obteve 1.076.893 votos (48,4%). Os oposicionistas Jackson Lago (PDT) - 896.930 votos (40,3%) e Raimundo Monteiro (PT) - 127.082 votos (6,03%) no primeiro turno.

Detalhe: o candidato com discurso oposicionista (?) Ricardo Murad (PSB) obteve 114.640 (5,70%). Mas a sua candidatura foi anulada pelo TRE-MA, que antes a havia autorizado, configurando uma das manobras mais estranhas daquela eleição, impedindo a realização do segundo turno.

Ressalto que nas eleições citadas participaram as candidaturas do PSTU (1994, 1998, 2002, 2006) e PV (1998) que, apesar de não atingirem 1% dos votos, igualmente deram suas contribuições ao pleito eleitoral.

Portanto, muita coisa aconteceu na história política-eleitoral maranhense que não pode ser esquecida, apesar de que alguns dos velhos protagonistas não fazem questão de lembrar, bem como muitos dos novos protagonistas fazem questão de contar a (es)história a partir deles em grande desrespeito a todos.

Atenciosamente e à disposição,

Igor Lago, médico, filho do ex-governador Jackson Lago.

São Luis, 27/10/13

DIVÃ MARANHENSE 6

(Ou a informação mal tratada, mal usada e/ou abusada)

O modus operandi, ou seja, "o modo de operação " dos dois atuais principais grupos protagonistas da política maranhense é idêntico. Não há uma diferença, sequer pequena, por mais que nos esforçamos em procurar.

O grupo dominante possui um império formado por televisão, rádios e jornal. Além dos seus principais meios, conta com uma rede de "blogs" a divulgar a mesma linha editorial política.

O outro grupo, conta com a simpatia de alguns meios de comunicação como televisão, rádios e jornais, especialmente o famoso Jornal Pequeno, além de uma rede de "blogs" que, no presente ano, aumentou muito em seu número.

Agora mesmo, divulga-se aos quatro cantos da mídia local uma matéria mal feita e com erros grosseiros sobre a política maranhense numa revista nacional de não muito boa reputação (já a conhecemos de 1994 quando o sarneyísmo divulgava a mesma revista com matérias atingindo o então candidato oposicionista Epitácio Cafeteira).

O hilário é que, agora, ocorre justamente o contrário e, como já dissemos, de qualidade questionável, porque começa e termina errando nas primeira e última frases, quando desconhece que o grupo dominante já passou por apertos e desesperos em 1990, 1994, 2002 e, (alguém precisa informar ao autor da matéria ou ao editor da famosa revista) foi derrotado em 2006!

Mas, o mais interessante é que na sua parte final revela o que temos procurado divulgar nesses textos titulados Divã maranhense: a ambiguidade do candidato do grupo dos dissidentes em relação à eleição presidencial, as semelhanças entre este e o grupo dominante, os métodos de fazer a política. E, não devemos esquecer, ambos são da base governista federal e querem tirar os louros da máquina, dos seus programas assistencialistas, etc.

Eis a preciosidade: "Sarney ameaçou sabotar o palanque de Dilma em vários Estados e agora negocia uma solução para o imbróglio. Na quinta-feira, arquitetou-se em Brasília um plano para um acordo capaz de agradar às duas partes. O vice-governador de Estado, Washington Luiz de Oliveira, do PT, trocaria o governo por um assento vitalício no Tribunal de Contas. Assim, Roseana poderia se licenciar para concorrer ao Senado sem o risco de um petista assumir o governo e virar a máquina estadual contra o PMDB. O Palácio do Planalto apoiaria Roseana e tentaria interditar o palanque estadual para Eduardo Campos. O problema é que o PSB de Campos é aliado tradicional do PCdoB e Dino já se comprometeu com o socialista. “Podemos abrir o palanque para todos os aliados que tiverem candidatos à Presidência, inclusive o PT”, diz Dino. A batalha, como se vê, exige uma complexa engenharia política. "

Como? Li direito? Entendi? É mais um erro do jornalista? Estão conchavando um acordão? Flávio governador e Roseana senadora em nome do Brasil e do Maranhão? O presidente da autarquia federal Embratur, cargo de confiança da presidente Dilma (PT), já se comprometeu com o candidato oposicionista Eduardo Campos (PSB)? E o Aécio Neves? Já recebeu o convite para subir no palanque da mudança? Deixará seu PSDB ser apenas um coadjuvante menor nisso tudo?

Desconfio que estas notícias tenham alguma relação com o processo de eleição interna do PT, partido de vários grupos e várias frentes, que vive um processo de disputa que resultará na sua decisão eleitoral para 2014,  e que poderá criar mais problemas ou soluções para o PT nacional, quer dizer, Lula e Dilma.

Bom, nós humildes espectadores, podemos dizer: "Eles que são brancos que se entendam!"

Creio que o Divã está esquentando. Isto significa mais trabalho para Freud e os psicanalistas, ou melhor, para os politiqueiros e a politicalha.

Igor Lago

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

DIVÃ MARANHENSE 5

As mais recentes pesquisas eleitorais (incluindo a divulgada hoje pelo IBOPE) mostram uma recuperação parcial da presidente Dilma após as manifestações de junho.

Apesar de não ter feito nada, absolutamente nada (exceto muito marketing e uso e abuso de sua presença na mídia) em resposta às causas que motivaram aquelas, os seus índices de intenção de votos melhoraram nas pesquisas, mas sem chegar ao patamar anterior que garantia a tranquila reeleição.

Isto prolonga a sessão no divã maranhense dos grupos sarneyístas e os seus dissidentes. A rigor, como se trata de Maranhão, ambos os grupos querem o mel, isto é, o peso do oficialismo federal.

Fortalecido pelo Bolsa Família e outros programas como o Minha Casa e, agora, o Mais Médicos, o assistencialismo, como sempre, poderá alcançar mais da metade do eleitorado maranhense. Quem estiver patrocinado por este leva as vantagens eleitorais e, principalmente, o voto.

Daí a luta a foice e martelo entre estes dois grupos, ambos da base aliada do governo federal, que querem o mel, os louros e outras coisinhas a mais.

O grupo dos dissidentes do sarneyísmo, representado pelos senhores Zé Reinaldo e Flávio Dino, está fazendo de tudo para obter esse apoio, que considera a extrema benção ( uma verdadeira nomeação) para as eleições. E fica a ludibriar os partidários dos presidenciáveis oposicionistas Aécio Neves(PSDB) e Eduardo Campos(PSB-REDE).

Assim, pensa em ter todos os palanques, o oficialista e o dos oposicionistas, com o único objetivo de desestimular qualquer outra candidatura oposicionista a governador que só tem a contribuir para o debate.

E, como esta possibilidade se torna cada vez mais real, apelam para todo tipo de pressão, de inibição, de promessas de formação de chapas proporcionais vantajosas, etc.

Em quem esse grupo votará? - O seu João e a dona Maria sabem tanto quanto nós: Na Dilma! Alguém duvida?

Mas, em compensação, prometem oferecer o palanque, timidamente, aos outros presidenciáveis, caso estes venham na campanha eleitoral.

Resta saber se aceitarão exercer o papel de enganados?

Nós, eleitores livres e independentes desse oficialismo, não podemos permanecer assistindo ao divã.

Temos de levantar as bandeiras da verdadeira mudança no Maranhão e no Brasil.

Igor Lago

DIVÃ MARANHENSE 4

Se Sigmund Freud ressuscitasse e fosse chamado a comentar o quadro político e eleitoral maranhense, talvez diria a um pré-candidato a governador:

"Quem quer ter muitas namoradas, acaba ficando sem nenhuma!";

Se Lavrently Beria ressuscitasse e fosse chamado a comentar o quadro midiático ludovicense, talvez diria a um tarefeiro que cultiva a personalidade de seu chefe:

"Tudo tem um limite. Stálin se foi em março de 1953, eu, em dezembro do mesmo ano!".

É impressionante. Parece que a esperteza é a maior das virtudes (se é que se pode considerá-la assim!) dos novos protagonistas de uma certa oposição maranhense.

Os dissidentes do sarneyísmo creem na possibilidade de ter todos os palanques presidenciáveis no Maranhão.

De Lula-Dilma, Campos-Marina e Aécio-Serra e, se der, até os do PSOL, PSTU e PCB.

Assim, não sobrará nem para o sarneyísmo...

Isto, em jogo, chama-se W.O. ou walkover, a vitória fácil, na qual um dos competidores não pode competir.

Mas, a política não é jogo, apesar de estar muito parecida ou pior que muitos jogos que vemos por aí.

E, quando a coisa parece sair de controle, se revelam piores que aqueles que combatem.

É o que estamos assistindo por nossas plagas tupiniquins e midiáticas.

sábado, 12 de outubro de 2013

ENTREVISTA DE IGOR LAGO A ROBERT LOBATO

Como está a sua vida profissional? O senhor ainda está em São Paulo?

Desde julho de 2006 trabalho aqui no Maranhão, 1 semana por mês, e, em Ribeirão Preto - SP, as outras 3 semanas.Mantenho vínculo profissional por concurso no Hospital Dutra - UFMA (atualmente licenciado) e, em Imperatriz, atuo no Hospital São Rafael, onde ajudei a criar um serviço de hemodinâmica.Também sou médico concursado do serviço de hemodinâmica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP desde junho de 2009, e faço consultório como clínico geral e cardiologista. Estudei Medicina em Cuba entre 1986 e 1992, revalidei o diploma pela UFMA em março de 1994. Fiz a pós-graduação entre 1995 e 2003 (residência em Clínica Médica e especializações em Cardiologia, Cardiologia-UTI e, por último, Hemodinâmica), por meio de concurso e/ou processos seletivos em hospitais públicos (Hospital Ipiranga, Hospital São Paulo e Instituto Dante Pazzanese) da cidade de São Paulo. Nesse período trabalhei como plantonista de Clínica Médica em Osasco durante 4 anos e, também, em São Paulo, no Pronto Socorro e na UTI do Hospital Ipiranga, como médico concursado entre 1996 e 2003. Vim para São Luis em janeiro de 2003, trabalhei na Clínica Procárdio e no Hospital Dutra, até dezembro de 2004, quando me mudei para Ribeirão Preto por razões familiares.


O fato de ser filho de médico influenciou na escolha da profissão?

Creio que sim. Eu vivia uma dúvida vocacional como a maioria dos jovens adolescentes. Fiz um único vestibular na UFMA, para medicina, passei para a segunda fase, mas não me classifiquei na fase final. Aí, começei a fazer cursinho, estava propenso a fazer Direito e, nesse período, surgiu a possibilidade de estudar medicina em Cuba.


O que fez o senhor ir trabalhar em outro estado ao invés de ficar no Maranhão?

Tenho dois filhos que tiveram problemas graves de alergia alimentar. Isto acabou nos levando para Ribeirão Preto, terra da minha esposa. Queríamos experimentar a adaptação deles a uma cidade de clima menos úmido. E, graças a Deus, deu certo.


Há planos de voltar ao Maranhão em definitivo?

Não.  Pretendo continuar com a minha atual rotina, lá e cá, apesar de cansativa.


Dr. Igor, o senhor é criticado por ter ficado muito tempo ausente do Maranhão, inclusive das lutas políticas no estado. Como o senhor encara estas críticas?

Encaro com muita naturalidade porque estudei a graduação e a pós-graduação fora. Aos 15 anos fiz intercâmbio de um ano nos EUA. Voltei e, um ano depois, fui para Cuba e fiquei seis anos. Voltei e, um ano depois, já estava em São Paulo, cidade querida que me acolheu por quase dez anos. Voltei a morar aqui nos anos 2003 e 2004. Desde dezembro de 2004 vivo em Ribeirão Preto.

Quanto à política, a gente dá a nossa contribuição onde estamos, de acordo com as possibilidades e circunstâncias. Desde cedo, ainda garoto, vivi a política em casa. Lembro das conversas; das campanhas de 1976, em Bacabal, e a de 1978, quando papai concorreu a deputado federal pelo MDB; da acolhida em casa de líderes estudantis da greve de 1979; da campanha pela Anistia; da campanha contra a instalação da Alcoa na Ilha de São Luis (Me faz lembrar o Policarpo!); da criação da Juventude Trabalhista liderada pelos irmãos Eduardo e Ricardo Telles e outros; Adolescente, da nossa discreta participação no movimento estudantil do Colégio Marista; das andanças com papai e outros pelas periferias de São Luis e interior do estado; da campanha das Diretas Já, das eleições de 1982 e de 1985, quando fazíamos a "operação formiga" e do início da campanha de 1986.

No exterior, acompanhava atentamente a Assembléia Constituinte, as eleições de 1988 e 1989, quando votei, pela primeira vez, no Brizola (10 turno) e Lula (20 turno) na Embaixada do Brasil em Havana. Em 1990, nas férias, viajei com papai em algumas atividades da campanha eleitoral. Em 1992, já de volta, acompanhei as discussões da campanha para prefeito de São Luis. Em 1994, acompanhei e participei de alguns eventos iniciais da sua primeira campanha ao governo. Em São Paulo, quando podia, ia a alguns atos do então candidato Mário Covas nas campanhas de 1994 e 1998.

Apesar dos compromissos da pósgraduação vim nas últimas semanas das campanhas de 1996, 2000 e 2002. Em 2006, vim na última semana de cada turno. Em 2008 e 2009, vivi intensamente todo aquele processo de cassação, vindo sempre a São Luis. Em 2010, participei de muitas atividades de campanha com papai no interior do estado, especialmente na região tocantina, e algumas em São Luis, como as caminhadas no Coroadinho, Liberdade…Mas é preciso dizer que a luta política não é só eleição, é exercer a cidadania o tempo todo onde você estiver.



E quanto a não ter tido maior presença no governo do Dr. Jackson Lago, o senhor se arrepende de alguma forma em ter ficado de longe?

Nenhum arrependimento. Não fazia parte de seu governo. Não tinha cargos, não transitava nas repartições públicas, nem tinha relação com secretários. Torcia, acompanhava, conversava, sugeria algo a ele quando tinha oportunidade somente.

O senhor costumava expressar várias críticas a setores do governo Jackson Lago. O que de fato fez com que o governo não fosse tão bom como se esperava?

Nunca expressei, publicamente, críticas a setores ou pessoas que faziam parte do governo Jackson Lago no seu período. Quando tomava conhecimento de algo negativo, seja político ou administrativo, procurava informá-lo. Aos mais próximos, podia comentar algum fato, atitude, detalhe, etc.

Quanto ao mérito de ter sido bom ou não, creio que houve escolhas muito ruins, que fizeram a mesmice que estamos acostumados a assistir e prejudicaram muito o governo, danificaram sua imagem, ... Mas não deixaram o governador completar o seu mandato e, assim, poder ser julgado nas urnas em 2010. Diria que foi o governo mais combatido e sabotado na história do Maranhão.


O senhor acha que o Jackson ficou isolado no seu próprio governo?

Ele assumiu o governo aos 72 anos. Estava bem de saúde. A meados de 2007 soube da recidiva do câncer. Iniciou o tratamento e trabalhou como ninguém em seu governo. Mantinha uma rotina de trabalho excessiva, acordava às 6horas e só dormia, com remédio, meia noite, uma hora da manhã. Creio que não fez boas escolhas para algumas áreas, confiou demais em quem não devia. E, assim, alguns problemas vieram à tona. Só foi saber de muitas coisas somente depois, muito depois. Foi, muitas vezes, mal aconselhado. Era um homem trabalhador, mas tinha os seus defeitos, dentre os quais, o de confiar, plenamente, nas pessoas, como se tivessem a sua mesma natureza e os mesmos propósitos. Na administração isto pode ser muito prejudicial.


O senhor costumava  aconselhar o governador?

Não, muito pouco. Mas, sempre que tinha oportunidade, procurava lhe repassar alguma informação que nos chegava. Lembro que, dentro das poucas sugestões que lhe fiz, no dia 31/01/2007, um mês de governo, foi a de criar um conselho de desenvolvimento econômico para que os secretários de Planejamento e da Fazenda dessem, periodicamente, satisfação ao mesmo. Assim, o governador teria a oportunidade de ouvir diferentes opiniões e não somente, a dos respectivos secretários dessas duas áreas de extrema importância para toda a administração pública. Infelizmente, isto não veio a acontecer.


Como o senhor encarou aquele impasse da greve dos professores e dos policiais?

Como graves e desnecessários. Havia razões para as mesmas, mas muita motivação política também. E, ao mesmo tempo, uma vulnerabilidade do governo provocada por atitudes intransigentes de alguns de seus próprios membros. Esses episódios revelaram que o governo era plural, heterogêneo, de disputas por espaços internos por influência entre alguns de seus principais secretários. Isto acabou prejudicando muito o governo e a imagem do governador. Quando se chegava a um acordo, este não era cumprido por diferenças, por exemplo, entre o secretário da Casa Civil, que negociava e tentava dar solução aos problemas, e o do Planejamento, que hesitava em cumprir o acordo. E o império das comunicações do Sarney deitava e rolava...


O senhor diria que o governador foi traído por membros do próprio governo?

O nosso atraso político, cultural, social e econômico envolve a todos nós. Muitos, quando adquirem um cargo, se transformam. As ambições, as vaidades, a ganância por mais poder faz com que muitos esqueçam que se trata de um cargo público, de confiança, de nomeação temporária para servir à população. Acredito que um gestor, quando dá determinada orientação para que o seu secretário ou assessor execute, e este não cumpre, ou faz de forma diferente, sem justificar ou informar àquele, sim, há uma quebra de confiança, de lealdade. Muitos cuidaram somente de si e de seus interesses eleitorais e políticos em detrimento do próprio governo. O que ficávamos sabendo de coisas desse tipo, principalmente depois, é muito triste e revoltante. É preciso lembrar que o Jackson sempre foi muito bem votado em São Luis para governador. Em 1994, obtêve 40%; em 2002, 53%; em 2006, 55% no primeiro turno e 65% no segundo turno. Mas, em 2010, apenas 15%! Para mim, este resultado foi dado pelo desgaste de seu governo provocado pelas atitudes equivocadas de alguns de seus secretários. A sua imagem foi descontruída em São Luis.  E concordo que não foi somente por causa da exploração, por parte dos adversários, da situação jurídica de sua candidatura.


O senhor concorda que eventuais erros do governo contribuiu para a cassação de Jackson Lago?

Não. O governo Jackson Lago não foi cassado por seus erros ou acertos. O governo Jackson representava um grande problema para o establishment político federal. A figura política mais importante, depois do presidente da República, estava derrotada em seu próprio estado. O seu desprestígio nacional estava claro, evidente, nítido para qualquer um constatar. Era (e continua sendo!) quem dava todo o suporte fundamental a este modelo político estabelecido no país, baseado no carisma de um líder populista que atrelou o estado ao seu partido, mumificou os movimentos sociais, as entidades estudantis e sindicais, associado às oligarquias financeiras e políticas.

A governabilidade desenhada por Lula e José Dirceu, ídolos de certos segmentos de nossa oposição, estava numa situação costrangedora: Jackson Lago no poder estadual representava um desprestígio ao cidadão incomum.

Era necessário entregar o Palácio dos Leões à filha derrotada nas urnas, mesmo que pela via judiciária.


O senhor considera que foi um acerto a candidatura de Jackson Lago em 2010 ou ele poderia, por exemplo, ser candidato a senador?

Ele não tinha motivos para se candidatar a senador ou a qualquer outro cargo. A sua cabeça estava completamente voltada para a candidatura de governador. Queria o seu mandato de volta para continuar a sua obra. Antes de tomar a decisão de tentar viabilizar a sua candidatura, conversou muito com o seu médico, que lhe disse que poderia fazer as suas atividades políticas, que cada um tinha a sua evolução, o seu tempo de doença, etc. Estava disposto a sair candidato sozinho pelo PDT. Entendia que era a sua derradeira missão.


O senhor é um duro crítico da postura do presidente da Embratur, Flávio Dino, em relação às eleições de 2010. O senhor diria que foi desleal na disputa?

Creio que não sou o único a pensar assim. Muitos maranhenses foram testemunhas das falas e insinuações  dos candidatos a governador Flávio Dino, e a senador, José Reinaldo, em relação à candidatura Jackson Lago. A ambição era e é tão grande que nem respeitaram a biografia de um lutador social, num momento difícil de sua vida. Combateram-no o tempo todo, maltrataram a sua candidatura até o dia da eleição. Foi o vale-tudo! E fizeram tanto mal à candidatura Jackson que acabaram com a possibilidade de segundo turno previsto desde o início da campanha. O hilário, para não dizer quão triste, é que eles e a "classe política", agora, tentam até desmentir, apagar essas atitudes reprováveis. Os interesses antes de tudo! E olha que tinham um candidato a senador que, este sim, realmente, estava impedido de ser candidato, obteve pouco mais de 200.000 votos que, logicamente, foram invalidados. E ficaram quietos, na surdina mantiveram a candidatura deste para que os outros candidatos a senador não recebessem esses votos.


Como o senhor vê a candidatura de Flávio Dino ao governo? O senhor concorda com a ideia de que ele representa atualmente os mesmos valores e sentimentos mudancistas que um dia foi representado por Dr. Jackson Lago?

O Maranhão sempre se caracterizou por ser um estado onde as forças que alcançam o poder conseguem, com certa facilidade, mantê-lo por muito tempo. Lembra do Urbano Santos? Benedito Leite? Vitorino Freire? Essa tradição causa uma forte divisão na sociedade. O sarneyísmo, que já dura quase 50 anos, com raros intervalos, reforça essa tradição. Mas, o que não podemos deixar de reconhecer é que existem diferenças dentro do grupo dominante e dentro das  oposições. 

São trajetórias muito diferentes. Não tem os mesmos valores, nem os mesmos sentimentos. Um, goste-se mais ou menos, era líder popular e democrático, formado na luta social. O outro, eleito pelo cabresto, pela  caneta, pela máquina do então governador Zé Reinaldo. E o que fez como deputado? Ficou a serviço das corporações jurídicas, nada mais. E têve um papel lamentável naquele episódio da "reforminha eleitoral", da janela da fidelidade e da polêmica regulação da internet.  Não denunciou o sarneyísmo e os indicadores sociais. Chega a nos fazer pensar que descobriu a miséria maranhense somente agora... É preciso lembrar que foi candidato a prefeito de São Luis com o apoio do grupo Sarney em 2008, como já tentara ser em 2004. E o que faz após perder a eleição apesar do apoio das máquinas federal, parte da estadual e municipal, além do apoio dos Sarneys? Não reconhece a derrota e entra com processo de cassação  do mandato do vencedor.

E, já que é da área jurídica, como se comportou, politicamente, durante o processo de cassação do mandato do governador? Fora o episódio que atuou em benefício próprio e de seu aliado de Caxias, nada. Zero. Nulo. Foi um deputado omisso, não deu uma declaração pública, não fez um único discurso de um minuto sequer na Câmara dos Deputados para denunciar aquela violência contra a democracia, contra o governador eleito legitimamente...Não escreveu uma linha nos seus artigos de quarta-feira no prestigiado Jornal Pequeno. Onde estava? Que fazia? Sonhava em ser apenas o pós-sarney como ele mesmo já disse? Ou se contentou em ser, apenas, o deputado federal do Lula e do José Dirceu no Maranhão, em vincular-se às realizações do governo federal e não atritar-se com o grupo dominante. São questões pertinentes. Representante do segmento de oposição dissidente do sarneyísmo, Flávio está candidato sozinho desde as últimas eleições.

Outros nomes, que poderiam se apresentar, não foram em frente. E os que tentam se apresentar, enfrentam enormes dificuldades, são desestimulados e ignorados pela mídia atrelada a este segmento. Agora mesmo, estamos assistindo a pressão deste segmento sobre a deputada Eliziane Gama para que desista e, assim, fiquem sozinhos a receber o voto dos oposicionistas maranhenses. Mas vejo um espaço enorme para o surgimento de outra candidatura oposicionista, com um perfil mais democrático, popular e sem cumplicidades com a velha política, com o vale tudo, com a lógica de que os meios justificam os fins, com certas companhias, …


Foi difícil sair do PDT?

Foi difícil suportar a sua degeneração, a sua vulgarização, a sua desfiguração, as agressões, a vilania, o cinismo. Sabíamos que o PDT nacional já tinha sido tomado por dois senhores que cuidavam de manter o controle cartorial a todo custo. Lembro que papai dizia: Este partido acabou! Esse pessoal não gostava do Jackson porque este representava uma ameaça constante. O Jackson não se envolvia com os destinos nacionais do partido. Dedicou-se, integralmente, à luta maranhense. Quando atuou, por necessidade, em 2006, foi contra a opção de candidatura própria para presidente porque esta prejudicava o partido em vários estados (inclusive no Maranhão). E quase derrota o Lupi e o Manoel Dias, que queriam impor a candidatura do Cristovam Buarque sem discussão, sem debate, de cima pra baixo. Papai, recém operado, foi ao Rio e quase derruba a tese deles, por 2 ou 3 votos.  Então, atuaram, sutilmente, desde essa época, para que o Jackson fosse perdendo o controle do partido aqui. Mantiveram o partido em comissão provisória, alguém sugeriu ao Jackson que aceitasse, para não entrar em conflito com a direção nacional. Após as eleições de 2010, houve uma movimentação no sentido de diminuir a sua influência. Portanto, sabíamos de todas as dificuldades, só não tinha ideia da fraqueza de muitos que, inicialmente, estavam ao nosso lado mas, de pouco a pouco, com os acontecimentos provocados pela crise no Ministério do Trabalho e o nosso posicionamento, com o aproximar das eleições municipais, com a perspectiva eleitoral de 2014 e os interesses pessoais em jogo, o desfecho nacional do PDT, acabaram levando a esta situação que classifico de resignação a essa decadente realidade partidária. Fizeram uma convenção aqui no Maranhão da unidade que celebrou o entreguismo, à aceitação ao que há de pior em pleno apogeu de um novo escândalo no próprio Ministério do Trabalho protagonizado pelas mesmas figuras que desfiguraram o PDT. E mentindo, usando de má-fé aos companheiros, que fariam um convenção que daria uma direção dividida meio a meio(sic!). Que nada, ficaram com o carguinho de vice-presidente porque, o que lhes interessa, é o arranjo para as eleições, a possibilidade de eleições para deputado e a disputada barganha da candidatura de vice-governador de quem apunhalou o candidato do PDT nas últimas eleições, etc.

Fiz tudo o que estava ao meu alcance para evitar a perda do partido. Mantive as minhas posições e, a decisão de sair, foi surgindo naturalmente, como seguir o caminho da coerência com as posições tomadas desde o início. Para mim o PDT é passado. Não tem mais nada a ver com a sua história. É um aglomerado de interesses pessoais que se digladiam, que tentam passar a perna um no outro, etc. Um partido que trai a sua história não tem futuro, pelo menos, digno.


Não era previsível uma crise do PDT após o falecimento do Dr. Jackson Lago?

Sim. O PDT, em determinado momento, perdeu o rumo, desviou-se, foi para caminhos diferentes. Os longos anos de prefeitura e, até mesmo, o pouco tempo de governo estadual contribuíram para isto. Acredito que, mesmo com papai vivo, mas com menos influência política pela idade, pelos problemas de saúde e pela falta de perspectiva de poder, muitas coisas que enfrentamos viriam à tona.

Ele teria de enfrentar, porque, a rigor, o que estava em jogo era a submissão do partido à politicalha, ao interesse de controle cartorial, ao interesse de se fazer tudo por um mandato, mesmo que implique na adesão inquestionável a outro projeto de poder de natureza diferente e, pasme, protagonizado por aqueles que mais contribuíram para o resultado eleitoral desfavorável da última eleição.


O senhor acaba de optar por se filiar ao PPS depois que o Rede Sustentabilidade, da Marina Silva, não conseguiu registro no TSE. O PPS terá mesmo candidatura própria ao governo ou poderá ocupar a vaga de vice na chapa da oposição ou mesmo do governo?

Depois de 4 meses de reflexão, do andamento dado no Maranhão à Rede, e o seu desfecho ruim, optei pela filiação ao PPS. Confesso que, muitas vezes, passou pela minha cabeça a ideia de nem me filiar. Há várias formas de contribuir politicamente. Uma delas, como simples cidadão,  avulsamente, sem partido, levantar o debate, tentar enriquecer a discussão para a reformulação da  política, não só no discurso, mas, principalmente, na prática. Mas, a gente tem um sentimento, uma certa responsabilidade política. Daí, a minha filiação. Agradeço o convite e a acolhida no PPS, especialmente à deputada estadual Eliziane Gama. Como disse no ato de filiação, serei apenas um membro a serviço do partido e da refundação da política.  Torço para que o PPS persista na ideia da candidatura própria ao governo, se viabilize e ande pelo estado a conquistar o voto desses maranhenses que não se identificam com nenhuma das duas candidaturas já postas.


O senhor faria campanha ou pediria voto para o candidato comunista num eventual segundo turno das eleições de 2014?

Primeiro, temos de saber se haverá segundo turno. Segundo, quem irá. Insisto que um terceiro nome, de credibilidade, que consiga viabilizar a sua candidatura, tem condições reais de crescer e disputar a ida para o segundo turno. Sou um humilde eleitor de um voto. É assim que me vejo e creio ser assim que me consideram. Sou de tradição oposicionista, pela alternância de poder. Mas precisamos ver como se dará a campanha eleitoral, os programas, os compromissos.


Qual a sua avaliação da administração do prefeito Edivaldo Júnior?

Creio que são os primeiros 9 meses mais frustrantes de uma administração em São Luis. A chamada mudança, a tão propagada renovação, parece ainda não ter começado. E estamos assistindo a algo inédito, a saúde de São Luis ser gerida, literalmente, por uma empresa. Privatizaram, sem nenhum pudor, a saúde municipal.


Como o senhor vê a candidatura de Luis Fernando?

Não o conheço pessoalmente. Vejo que ainda precisa andar muito pelo estado para ser conhecido. Terá que superar o desgaste histórico e crescente do grupo com muita desenvoltura pessoal.


O senhor aceitaria ser candidato a governador pelo PPS, caso Eliziane Gama desistisse da candidatura dela?

Sou apenas um novo filiado ao PPS. Torço e ajudarei, dentro das minhas limitadas possibilidades, para que a deputada estadual Eliziane Gama continue com a determinação de apresentar o seu nome ao governo, que consiga viabilizar-se junto a outras forças políticas. Há um imenso eleitorado ansioso por outra opção, especialmente aquele que votava no Jackson. 


Qual o grande legado deixado por Jackson Lago?

A de um cidadão que se dedicou à causa pública, ao coletivo.


Deixe a sua mensagem para os leitores.

Espero ter respondido, de forma satisfatória, às suas perguntas e correspondido aos seus leitores. Agradeço a oportunidade de participar do seu prestigiado blogue. Abraço a todos!


ENTREVISTA FEITA POR EMAIL EM 10/10/2013

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

DECISÃO DE FILIAÇÃO PARTIDÁRIA

Optamos pela filiação ao PPS, que ocorrerá às 17 horas, na sua sede, na rua do Egito, esquina com Av. Beira Mar.

Outro(a)s companheiro(a)s seguirão o mesmo caminho, após a necessária e providencial reflexão.

Seguiremos, dentro das nossas limitações, nos pautando pela renovação e reformulação da política no discurso e na prática.

É a nossa contribuição como simples cidadão.

Igor Lago

São Luis, 04/10/2013